domingo, 3 de janeiro de 2016

RODA DE FOGO (BASTIDORES)


RETORNE AO MENU PRINCIPAL

RETORNE AO MENU PRINCIPAL

Com sinopse criada por Marcílio Moraes, a trama de "Roda de Fogo" foi desenvolvida por um grupo de autores da Casa de Criação Janete Clair – Coordenada por Dias Gomes. Outros autores envolvidos no projeto foram Ferreira Gullar, Euclydes Marinho, Luiz Gleiser, Joaquim Assis, Marília Garcia e Antônio Mercado. O objetivo da Casa de Criação Janete Clair era selecionar e elaborar roteiros para as produções da emissora.

Lauro César Muniz, que já era um autor renomado através de sucessos como O Casarão (1976), Espelho Mágico (1977), Os Gigantes (1979), além de outros sucessos, foi convocado pela Globo para assumir a autoria de "Roda de Fogo", enquanto Marcílio Moraes, que havia sido colaborador de "Roque Santeiro", um ano antes, ficou como coautor.

"A ideia básica de Roda de Fogo surgiu na Casa de Criação, da Globo. E eu criei a primeira sinopse. Aí foi chamado o Lauro César Muniz para assumir a novela. Sob o comando dele, fizemos algumas modificações na história. Mas os primeiros capítulos que o Lauro escreveu foram questionados pela direção da Globo, que então me pediu para tentar outro caminho. Eu retomei, em parte, a sinopse original (ênfase no conflito pai x filho), e escrevi um novo primeiro capítulo. Eles gostaram. O Lauro então incorporou este capítulo e fomos em frente. O Lauro como titular e eu como coautor. Outro tremendo sucesso, de grande repercussão." – Marcílio Moraes em seu blog de mesmo nome.

Segundo o autor Lauro César Muniz, toda a trama da novela foi desenvolvida a partir de uma ideia simples: a história de um empresário que descobria ter os dias contados e, a partir daí, fazia uma revisão de sua vida. O que seria um exercício despretensioso de criação se transformou em um projeto concreto quando o diretor Daniel Filho viu-se às voltas com a necessidade urgente de ter uma trama para entrar no horário das 20h.

Transição entre a extinta moeda cruzeiro e o plano cruzado, realinhamento dos preços, divina externa astronômica sem perspectiva de acordo e o chamado capitalismo selvagem explicavam porque os empresários passavam de mocinhos a vilões nas novelas daquela época. Assim foi com Renato Villar (Tarcísio Meira), um empresário que, inicialmente participava de uma grande organização de lavagem de dinheiro. Mas, com o passar do tempo, o vilão torna-se arrependido, e começa a, curiosamente, investir no próprio país, chegando a criar uma instituição com fundo social.

O vilão arrependido Renato Villar (Tarcísio Meira) conquistou a simpatia do telespectador, que o perdoou e passou a torcer pelo sucesso do personagem. Muitos escreveram à TV Globo pedindo que ele continuasse vivo, o que não aconteceu. Em reunião entre os autores e a direção da emissora, o vice-presidente de operações da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, teria profetizado que o público não só entenderia como aceitaria o final. Dito e feito: de acordo com Lauro César, uma pesquisa realizada após a exibição do último capítulo confirmou o prognóstico.

O ator Paulo Goulart, intérprete do juiz Labanca – o antagonista do vilão Renato Villar (Tarcísio Meira) – lembra que, à medida que o protagonista foi se regenerando na trama, por meio do amor que sentia pela juíza Lúcia (Bruna Lombardi), e passou de vilão a mocinho, seu personagem, apesar de estar do lado da lei, começou a ser um pouco mal visto pelo público, que não queria que ele atrapalhasse o romance do casal.

Hugo Carvana, que viveu o personagem Paulo Costa, conta que a novela fez muito sucesso, e recorda o alvoroço causado em uma churrascaria do Rio no dia em que ele, Cecil Thiré e Carlos Kroeber – todos intérpretes de personagens corruptos e ambiciosos na trama – encontraram-se para jantar.

Os primeiros capítulos de Roda de Fogo foram gravados em Brasília, com a intenção de transmitir ao telespectador uma das discussões centrais da novela: a busca por poder. Cenas gravadas no Palácio do planalto, no Itamaraty, na Esplanada dos Ministérios, serviram de locações para Renato Villar (Tarcísio Meira) demonstrar seu poder. Mas logo a ação se transferiu para o Rio de Janeiro, onde ficavam a casa e a empresa de Renato Villar.

"Roda de Fogo" destacou conflitos masculinos, sem desmerecer as personagens femininas. Renato Villar, personagem de Tarcísio Meira, teve maior destaque, não apenas por ser protagonista, mais também por toda carga emocional do personagem. Inicialmente um vilão que só visava poder e dinheiro, após a descoberta de que estava à beira da morte,

Renato Villar muda o comportamento, resolve dar atenção ao filho Pedro (Felipe Camargo), a quem sempre desprezou. Renato também se abre para um amor sincero com a juíza Lúcia Brandão (Bruna Lombardi), além de ficar mais simples e mudar o comportamento com a família e seus subalternos, como o motorista Tabaco (Osmar Prado), que se transforma em um de seus melhores amigos.

Outras figuras masculinas que se destacaram foi o General Hélio D'Ávila (Percy Aires) com sua tradição e discurso de moral e ética;

Os traumas e passado complicando a relação entre o juiz Marcos Labanca (Paulo Goulart), um viúvo solitário e dedicado à magistratura e o filho paraplégico Roberto (Jayme Periard);

Junior Rezende (Cássio Gabus Mendes) um jovem com uma vida pela frente mais que apenas dar atenção a uma obseção e empenho em desvendar a misteriosa morte do pai, Celso Rezende (Paulo José);

Tabaco (Osmar Prado) e sua incapacidade de manter uma relação apenas com uma mulher, se transformando num objeto de prazer, o levando a ser volúvel e inconfiável no meio feminino;

Anselmo dos Santos (Ivan Cândido), outro viúvo na história, que se dedicou a criação da única filha, Vera (Claudia Mauro). Intimamente angustiado, esconde da própria filha seu verdadeiro ofício: assassino de aluguel;

A relação sadomasoquista entre Mário Liberato (Cecil Thiré), um advogado bem sucedido e Jacinto (Claudio Curi), seu fiel mordomo que foi um torturador na época da ditadura militar. Entre outros personagens masculinos e seus conflitos que se destacaram na novela.

Renata Sorrah mudou o visual para compor a “perua” Carolina. A atriz escureceu os cabelos e, pela primeira vez, usou megahair. O penteado predileto da personagem era uma trança longa, que ela prendia com um laço de veludo. As roupas tinham grandes ombreiras. O visual de Carolina ditou moda na época.

Loira de nascença e sempre de cabelos longos, Bruna Lombardi, para viver a juíza Lúcia Brandão, desconstruiu a imagem com que o público estava acostumado a vê-la. A atriz apareceu de cabelos escuros e com um corte meio Chanel, além de usar tailleurs. Obra da figurinista Helena Gastal. Mas a mudança no visual não aconteceu apenas em "Roda de Fogo", pois, alguns meses antes, a atriz pintou e encurtou o cabelo para protagonizar a minissérie "Memórias de um Gigolô".

"Roda de Fogo" marcou a volta de Osmar Prado à TV Globo após um período afastado da emissora. Antes, o ator esteve na extinta Rede Manchete.

Em entrevista ao programa "Grandes Atores" – exibido pelo canal por assinatura, Viva – Osmar Prado revelou que os autores de "Roda de Fogo", inicialmente, queriam um ator mais corpulento, mais robusto para viver o personagem Tabaco, um mulherengo sedutor. Dias depois, após a estreia da novela, Osmar Prado e as atrizes que viviam suas amantes na novela (Claudia Alencar, Inês Galvão e Carla Daniel), foram convocados para uma reunião com o diretor Paulo Ubiratan, que elogiou a atuação dos atores, pois os personagens estavam sendo elogiados pelo publico. O sucesso de Tabaco e suas amantes fez com que fossem aumentadas as cenas nas novelas.

O capítulo 70 de "Roda de Fogo", que foi ao ar numa quinta-feira, 13 de novembro de 1986, tornou-se um desafio em vários sentidos. Do incidente com a atriz Joana Fomm durante as gravações ocorridas terça-feira (21 de outubro de 1986) até a expectativa da direção da Globo em retomar a audiência já que a partir deste capítulo a novela voltava a ocupar o horário normal (após término do horário político decorrentes das eleições de 1986 para governador), tudo foi motivo de tensão.

Os autores Lauro César Muniz e Marcílio Moraes, pediram em nota anexada ao capítulo, ao elenco e à direção da novela, uma atenção especial para as cenas, principalmente para as que envolviam Tarcísio Meira (Renato Villar) e Joana Fomm (Telma). E, exatamente na cena que mostra o emocionante encontro de Renato Villar e Telma (quando ela toma conhecimento da verdade que envolve a morte do marido Celso Rezende), Joana Fomm acaba ferindo o pé com um caco de vidro.

Para dar maior realidade à cena, o diretor Ricardo Waddington pediu à atriz que deixasse um copo cair. O efeito foi testado várias vezes pelo diretor e em nenhuma delas quebrou. Mas, na hora H, o copo partiu-se espalhando cacos pelo estúdio. Joana sentiu o ferimento, mas continuou com a cena. Só no final é que percebeu que o corte foi profundo e grave. Ela seguiu imediatamente para um hospital onde levou cinco pontos e teve que permanecer 48 horas com o pé para cima.

A gravação do sábado, 25 de outubro de 1986, chegou a ser suspensa porque a recuperação da atriz não foi tão rápida quanto se esperava. Com o mesmo sendo de profissionalismo com que terminou a gravação da cena, Joana Fomm quis logo se recuperar para não prejudicar os colegas.

O clima de confraternização dos atores e diretores de "Roda de Fogo", numa quarta-feira, 17 de dezembro de 1986, durante o amigo oculto, contrastava com a tristeza da atriz Lúcia Veríssimo. Ela foi dispensada da novela pelo diretor Paulo Ubiratan que não levou em consideração as explicações e nem mesmo o abaixo-assinado que o elenco da novela fez a favor de Lúcia. Paulo Ubiratan alegou que a atriz atrapalhou o ritmo das gravações quando pediu licença para viajar por alguns dias. Além deste incidente, também constavam duas suspensões da atriz, por atraso.

Depois do regime de seis horas diárias de trabalho foi adotado naquele ano, os atores da TV Globo, tinham passado por um controle rígido de horário de chegada. Mesmo os que só participavam das últimas cenas do roteiro, tinham que chegar na Globo às 14h. os atores, diretores, técnicos, maquiadores e camareiras de "Roda de Fogo", ficaram surpresos com o afastamento da atriz e acharam que a atitude de Paulo Ubiratan havia sido rigorosa demais.

Lúcia Veríssimo ainda participou do amigo oculto e ficou emocionada com as manifestações de carinho dos colegas de trabalho, principalmente do apoio de Bruna Lombardi e Claudia Mágno.

Os autores de "Roda de Fogo", Marcílio Moraes e Lauro César Muniz, criaram novos "ganchos" pra novela, já que a saída de Laís apressava o reencontro de Pedro (Felipe Camargo) e Ana Maria (Isabela Garcia).

No capítulo 122, Laís faz um teste para viajar como manequim executiva por toda a América Latina e, daí em diante, ainda é lembrada em algumas cenas nas conversas de Lúcia, Pedro e Brandão. Os autores também não garantiam a volta da personagem de Lúcia Veríssimo nos capítulos finais da novela, e é o que acabou acontecendo. Marcílio Moraes e Lauro César Muniz também não esconderam a frustração de não poder trabalhar mais um personagem tão forte com Laís, que conquistou o público.

"Roda de Fogo" foi a primeira novela de Felipe Camargo. Porém, alguns meses antes da estreia da novela, o ator estreou na TV, como protagonista da minissérie "Anos Dourados" de Gilberto Braga, ao lado de Malu Mader.

Ivan Senna viveu um advogado contratado por Renato Villar (Tarcísio Meira), responsável pela partilha das ações entre a família do empresário. O ator, falecido em maio de 2009, atuou na série infantil "Sítio do Picapau Amarelo", primeira versão produzida e exibida pela Globo nos anos de 1970 a 1980. No Sítio, Ivan Senna deu vida ao inesquecível João Perfeito, ambicioso empregado de Dona Benta (Zilka Salaberry). "Roda de Fogo" seria seu retorno à TV, logo após terminar o Sítio, no mesmo ano.

A Censura Federal cortou algumas passagens e diálogos, como a cena em que Carolina (Renata Sorrah) chamava Mário Liberato (Cecil Thiré) de homossexual. Renata Sorrah e Cécil Thiré se destacaram na novela a ponto de quase roubarem a cena de Tarcísio Meira, o Renato Villar.

Na sinopse inicial de "Roda de Fogo", não estava previsto o crescimento de Mário Liberato (Cécil Thiré), sua ascensão à presidência do grupo Renato Villar e nem seu casamento com Carolina. O personagem conseguiu grande empatia com o público e por isso cresceu.

Mário Liberato foi vivido com maestria por Cécil Thiré. Aparentemente um advogado bem compenetrado, aos poucos o personagem foi mostrando que era o grande vilão da novela, frio, calculista, além de outras coisas mais. Bissexual, Mário Liberato, além de manter um caso com seu fiel mordomo Jacinto (Claudio Curi) – relação esta, apresentada com sutiliza para o telespectador – chegou a se casar com Carolina (Renata Sorrah), mulher de Renato Villar (Tarcísio Meira), seu maior inimigo ou, bem lá no intimo, o grande amor da sua vida, jamais correspondido e sem a mínima chance de ser. Talvez, por isso, Mário Liberato quis tomar tudo de Renato Villar.

Daniel Filho, na época diretor da Central Globo de Produções, temendo que a atriz sofresse alguma agressão pelo público, ficou preocupado ao escalar Renata Sorrah para o papel da vilã Carolina. "Ele achou que eu não caberia no papel de uma mulher egoísta, de direita, mas mesmo assim eu resolvi aceitar. Deu certo", disse a atriz.

Muito antes da fama, de se tornar conhecido pelo público, Marcos Palmeira fez uma "pontinha" num capítulo de "Roda de Fogo". A cena foi a que Renato Villar (Tarcísio Meira) passa mal numa estrada deserta, durante a noite e é socorrido por dois rapazes. Um dos rapazes era Marcos Palmeira. O ator também – que chegou a ganhar um pequeno texto – gravou num cenário feito um quarto de hospital, onde Renato Villar ficava internado.

Vinicius Manne ganharia a fama só no ano seguinte, quando apareceu todas as noites, mostrando aquele bumbum maravilhoso na abertura da novela "Brega & Chique". Porém, antes, o ator e modelo fez uma pontinha em "Roda de Fogo", vivendo um modelo fotográfico em uma cena de alguns minutos ao lado de Lúcia Veríssimo.

A "Roda de Fogo (1986)" da Globo, NÃO FOI UM REMAKE da "Roda de Fogo (1978)" da Tupi. As novelas nem de longe são parecidas. A única coisa em comum é o título e Eva Wilma, que atuou em duas novelas com mesmo título, mas com enredo, época e emissoras diferentes.

"Roda de Fogo" foi vendida para cerca de 40 países, entres eles Alemanha, Canadá, França, Itália, Marrocos, Romênia, Rússia, Cingapura e Suíça.

"Roda de Fogo" foi reapresentada entre 21/05 e 06/07/1990, em Vale a Pena Ver de Novo. A reprise sofreu um corte de 144 capítulos: dos 179 da apresentação original, foram exibidos apenas 35.

RODA DE FOGO (TRILHA SONORA)

AGORA VEJA RODA DE FOGO (TRILHA SONORA)

RETORNE AO MENU PRINCIPAL
RETORNE AO MENU PRINCIPAL

Nenhum comentário :