sábado, 21 de março de 2015

"Babilônia" da Globo sofre com preconceito político e religioso contra homossexuais

Coautor de Babilônia, Ricardo Linhares reagiu indignado à campanha proposta por deputados evangélicos para que o público boicote a nova novela das nove da Globo, segundo informação do colunista Daniel Castro do Notícias da TV. Na trama, Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg formam um casal de mulheres maduras que mantêm uma relação de 40 anos, criaram juntas um filho e, nos próximos capítulos, vão transformar a união civil em casamento. Para Linhares, a sugestão de boicote tem motivação “obscurantista e ditatorial” e promove “a discriminação e a intolerância”.

Em sua primeira semana, Babilônia apresentou duas cenas em que Teresa (Montenegro) e Estela (Timberg) se beijam carinhosa e delicadamente. As imagens incomodaram o senador Magno Malta (PR-ES) e o deputado federal João Campos (PSDB-GO), integrantes da Frente Parlamentar Evangélica. Eles emitiram nota em que pedem boicote à novela, por fazer “apologia ao mal” e visar "destruir famílias”.

De acordo com o UOL, no Twitter, o pastor Silas Malafaia também criticou a Globo por conta dos relacionamentos homoafetivos nas novelas -- relembrando os casais gays de "Império" e "Amor à Vida". "A novela 'Babilônia' representa muito bem o que a Globo tem sido: a casa da imoralidade. Um final de carreira ridículo para duas das maiores estrelas da dramaturgia brasileira".

Magno também publicou uma foto pedindo o boicote. No post, que tem cerca de 9.394 mil até o momento, internautas divergem quanto à campanha.

"Isso é ridículo. Como pode um representante do povo pensar assim.. Enquanto isso políticos roubando e acabando com nosso país. Isso sim e destruir com famílias. Não uma novela que trata da realidade das famílias e quebra o preconceito", escreveu um deles.

Ainda de acordo com o UOL, o boicote promovido pela Frente Parlamentar em Defesa da Família Brasileira contra a novela "Babilônia" é coercitiva e lembra a relação dos militares com as novelas durante a ditadura.

A avaliação foi feita pela professora Cristina Costa, diretora do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP (Obcom). Segundo ela, não se pode dizer que se trata de censura, porque os deputados e senadores que lideram a campanha não usaram seu poder para tirar o folhetim do ar ou mesmo para mudá-lo de horário. No entanto, ela enxerga a ação de maneira "preocupante".

"Isto é coerção. E na essência é o mesmo que os militares faziam na ditadura. Eles tentam impedir previamente que a população veja um conteúdo artístico, obstruindo assim o debate e a consciêncientização sobre temas que ocorrem na sociedade. Eles obviamente não têm os mesmo meios que a ditadura, mas certamente se utilizam dos mesmos critérios", disse.

Além disso, a diretora do Obcom, que possui um acervo de mais de 6.000 peças de teatro censuradas entre 1926 a 1970, aponta outras semelhanças entre o boicote e a censura do período militar: "Os critérios são os mesmos: Impedir a veiculação de conteúdos que não atendam a uma falsa moralidade, ou a uma moralidade religiosa, e uma ideia equivocada sobre o papel da arte."

Para ela, a arte é um espaço para discussões, mesmo que contundentes, sobre a realidade. "A arte não deve estar a serviço de crenças, mas a serviço da crítica, propondo discussões de temas que são tratados no mundo. Isso tudo faz parte de um retrocesso político ideológico muito forte na sociedade brasileira de hoje."

Aproveitando a situação, o SBT usou do preconceito aos homossexuais e, boicotando a novela da Globo, lançou o slogan "novela pra família é aqui", induzindo as pessoas discriminarem ainda mais a união entre pessoas do mesmo sexo e querendo que o público de "Babilônia" migre para a reprise de sua suposta novelinha infantil "Carrossel". Até um contraste esta campanha da TV de Silvio Santos, lembrando que o primeiro beijo gay aconteceu lá, através das atrizes Luciana Vendramini e Gisele Tigre na novela "Amor e Revolução" escrita por Tiago Santiago em 2011.

Vitor de Oliveira, um dos autores colaboradores do premiado remake de "O astro" e de "I Love Paraisópolis", a próxima novela das sete, se manifestou em relação a atual situação da novela das nove da Globo:

Há 30 anos atrás, na novela "Corpo a Corpo", de Gilberto Braga, havia um romance inter-racial vivido entre os personagens de Marcos Paulo e Zezé Motta. Na época, insinuaram que Marcos Paulo deveria ganhar muito bem pra ter que beijar uma negra na boca. 30 anos depois, Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg vivem um Casal homossexual em "Babilônia", do mesmo Gilberto Braga, agora em parceria com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. E não faltam insinuações de que as atrizes devem estar sendo muito bem pagas para serem submetidas a um papel como esse.

Enfim, a torcida é que, para que esse comentário sobre amor gay passe a ser considerado tão absurdo como o comentário feito há 30 anos atrás sobre o amor inter-racial. A passos lentos, estamos evoluindo. E obrigado, Gilberto Braga, por continuar rompendo paradigmas - escreveu Vitor de Oliveira em sua conta do Facebook.

Ao mesmo tempo, estes acontecimentos servem para mostrar bem como é a população brasileira que, num momento de crise financeira, onde as pessoas mal tem dinheiro para comer, muito menos para o lazer e que a corrupção política e exploração religiosa tomam conta do país, esquecem o momento precário para se preocupar com expressões de amor, de afeto entre pessoas do mesmo sexo. Como se uma novela fosse modificar o caráter de alguém. Enquanto isso, países mais evoluídos que o Brasil, apresentam há muitos cenas de afeto homossexual em sua dramaturgia da TV.

Diante desta precária e absurda situação, o portal MUNDO NOVELAS deixa esta imagem belíssima entre o beijo de Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) na novela "Babilônia".

E VIVA A TODA FORMA DE AMOR!

Nenhum comentário :