domingo, 28 de abril de 2013

SARAMANDAIA (VAMOS RECORDAR)

“Saramandaia” é uma novela de Dias Gomes com direção de Walter Avancini, Roberto Talma e Gonzaga Blota; produzida e exibida pela Rede Globo às 22h, de3 de maio a 31 de dezembro de 1976 em 160 capítulos.

Inspirado no realismo fantástico, Dias Gomes apresentou um painel de personagens exóticos para, por meio da ficção, abordar questões políticas, culturais e socioeconômicas, transformando a cidade fictícia da novela em um microcosmo do Brasil. Um coronel latifundiário chamado Zico Rosado (Castro Gonzaga), com formigas saindo pelo nariz; um eminente professor de português, Aristóbulo (Ary Fontoura), coletor de impostos, que não dorme há nove anos e se transforma em lobisomem nas noites de lua-cheia; um farmacêutico, seu Cazuza (Rafael de Carvalho), que quando se afoba, põe o coração pela boca; o alado Gibão (Juca de Oliveira), que não tira o casaco para esconder as asas, Marcinha (Sônia Braga), que de tão ardente toca fogo no colchão e queima aqueles que a toca; e uma senhora comilona chamada dona Redonda (Wilsa Carla), que engorda até explodir.

Os habitantes do fictício vilarejo da pernambucana Bole-Bole, estão mobilizados em torno de um plebiscito para a troca do nome da cidade para Saramandaia. Duas facções promovem uma intensa campanha.

O coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) lidera os “tradicionalistas”, usando justificativas históricas para a conservação do nome original. Os “mudancistas”, liderados pelo coronel Tenório Tavares (Sebastião Vasconcelos), têm o apoio do vereador João Gibão (Juca de Oliveira), autor do projeto: eles alegam vergonha do nome Bole-Bole, relacionado a um episódio ocorrido com D. Pedro II na cidade.

Coronel Zico rosado (Castro Gonzaga) é descendente dos fundadores da cidade, fato de que muito se orgulha. Por isso, à parte outras razões, vê a tentativa de mudar o nome de Bole-Bole como um desrespeito a seus antepassados. Dono da maior usina de açúcar da região, tem ainda a mentalidade dos antigos senhores de engenho, exigindo submissão e respeito às suas vontades, como se fossem leis. Como herança de família, mantém uma rixa com os Tavares, o que, em passado recente, significou mortes de ambos os lados. Sofre de um formigamento nasal e, para aliviar a coceira, carrega um lenço vermelho no pescoço e o esfrega permanentemente no nariz. As formigas que saem das suas narinas, talvez, sejam consequência dos anos de contato com o açúcar. Quando Zico Rosado se enerva elas se assanham, aumentando a coceira. Casado com Dona Santinha (Ana Ariel), é pai de Dalva (Ana Maria Magalhães) e avô de Dulce (Tereza Cristina Arnaud).

No primeiro capítulo da novela, durante uma discussão sobre a mudança do nome da cidade, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) fica tão vermelho que o coração vai parar na boca. Ele consegue engoli-lo de volta, mas é dado como morto – o povo acha que ele não engoliu direito.

Como era contra a substituição do nome Bole-Bole, os tradicionalistas logo passam a considerá-lo como o primeiro mártir de sua causa, dizendo que ele morreu de “indignação cardíaca”. O defunto, porém, volta à vida durante seu cortejo fúnebre.

Interesses políticos e econômicos estão por trás da discussão sobre a mudança do nome da cidade. O coronel Tenório Tavares defende a troca, pois pretende lançar no mercado a cachaça Saramandaia, nome que fez questão de registrar antes mesmo da realização do plebiscito. A bebida será concorrente da cachaça Bole-Bole, produzida por seu inimigo, Zico Rosado, defensor ferrenho da manutenção do nome da cidade. A briga, extensiva aos partidários de um e outro, reflete a disputa política entre os dois coronéis, que agem através de meios lícitos e ilícitos para se manter no poder.

No capítulo 13, são apurados os votos do plebiscito, que dá vitória ao nome Saramandaia, em uma disputa apertada. Os tradicionalistas tentam impedir a mudança, e pedem ao professor Aristóbulo para entrar com um mandado de segurança para anular o plebiscito mas, alguns meses depois, o resultado é homologado. Como vários acontecimentos trágicos se sucedem – a explosão de Dona Redonda, uma seca interminável e a morte do filho do prefeito –, o povo é induzido a atribuir o azar à troca do nome da cidade, levando Zico Rosado a se aproveitar da fé popular para tentar fazer com que Saramandaia volte a ser Bole-Bole. Mas o novo nome é mantido.

Nascido João Evangelista, mais conhecido como João Gibão (Juca de Oliveira) é filho de Dona Leocádia (Lídia Costa) e irmão de Lua Vianna (Antonio Fagundes). Seu apelido vem do hábito de se cobrir com um gibão para esconder um pequeno defeito nas costas. Como quem carrega o peso do mundo, é um homem arredio, reservado, retraído. De inteligência e sensibilidade agudas, possui dotes paranormais, como a premonição. Isso o angustia, pois não pode influir para modificar o rumo da vida. É vereador e autor do projeto para a troca do nome da cidade. Saramandaia foi um nome sugerido a Gibão num sonho. Afora a atividade política, dedica-se a cuidar de pássaros – tem uma loja de aves – e ao amor de Marcina (Sônia Braga), que namora há vários anos, sem nunca se decidir a casar. Mais tarde, descobre-se que o colete de couro encobre um par de asas.

João Gibão (Juca de Oliveira) e Marcina (Sônia Braga) são apaixonados, mas ele se esquiva dela para não revelar que tem asas, levando-a a acreditar que não é amada.

Marcina (Sônia Braga) é a única filha de Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) e Maria Aparadeira (Eloísa Mafalda), que choram o desgosto de vê-la noiva de Gibão (Juca de Oliveira) que, além de mudancista, é um esquisitão. Marcina não atenta a nada. Seu mundo se resume a Gibão e à fogueira que a consome e aumenta diante das recusas do noivo. O ardor crescente a faz entrar em violentas crises, quando agride os pais e o mundo em volta. Não entende por que Gibão não a quer, se diz que a ama.

Maria Aparadeira (Eloísa Mafalda) é mulher de Seu Cazuza (Rafael de Carvalho) e mãe de Marcina (Sônia Braga). É a parteira da cidade, já tendo auxiliado o nascimento de metade da população. Mulher de ação, muito ligada à igreja e a Padre Romeu (Francisco Dantas), sua religiosidade a coloca numa posição de liderança entre as beatas.

A bela Marcina também tem suas esquisitices: volta e meia é acometida por uma febre muito alta que a deixa com o corpo em brasa, não raro provocando queimaduras em quem a toca. Até seu lençol carrega a marca do calor. Cazuza imagina que a filha está doente da cabeça e Dona Maria Aparadeira garante que só o demônio é capaz de transtornar tanto uma pessoa. E a coisa se agrava porque, além das crises, Marcina ainda se atreve a defender ideias mudancistas. Dr. Rochinha (José Augusto Branco) receita-lhe casamento como cura. Diante da frieza de João, que evita uma maior aproximação para que ela não descubra suas asas, Marcina passa a provocar-lhe ciúmes.

João Gibão e Marcinha terminam o namoro, e ela se aproxima do delegado Petronilho (Carlos Gregório). Seus pais logo querem vê-la casada com o rapaz que, no entanto, não está disposto a romper seu voto de castidade.

Não suportando ficar distante de sua amada, João a pede em casamento, e o pai da noiva, Seu Cazuza (Rafael de Carvalho), embora um “tradicionalista”, acaba aceitando. É somente na lua de mel que Marcina descobre o segredo de João, e acaba revelando a descoberta para sua mãe, Maria Aparadeira (Eloísa Mafalda).

Os jovens Dirceu (Pedro Paulo Rangel) e Dulce (Teresa Cristina Arnaud) se apaixonam, mas pertencem a famílias rivais e, portanto, são impedidos de viver o seu amor. Ele é filho do coronel Tenório Tavares (Sebastião Vasconcelos), ela é neta do coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga), dois inimigos mortais. Um acusa o outro de ter matado membros de suas famílias. Zico Rosado alardeia que Tenório Tavares foi o mandante da morte de seu filho Zé Mário, mas o coronel afirma que foram os próprios jagunços de Rosado que, por acidente, mataram o rapaz: a ordem era matar Risoleta (Dina Sfat), namorada dele. Apesar da discórdia familiar, Dirceu e Dulce decidem ficar juntos. A menina ignora que é filha de Risoleta e de Zé Mário, e que foi tirada de sua mãe ainda pequena, para viver com os avós.

Zico Rosado chegou a dar dinheiro a Risoleta para que ela fosse embora. Quando esta retorna e decide permanecer na cidade, o coronel ameaça fechar sua pensão. Mas ela também o ameaça, com a informação de que foram seus capangas que mataram Zé Mário.

Dulce e Dirceu tentam fugir juntos, mas o plano é descoberto, e Zico Rosado manda darem uma surra no rapaz, o que acirra a briga entre as duas famílias. Perto do fim da trama, no entanto, o casal consegue fugir. Com medo de que se repita com a filha a tragédia ocorrida com ela e Zé Mário no passado, Risoleta revela à família de Rosado a verdade sobre a morte do pai de Dulce. Dirceu e Dulce voltam à cidade para o velório do avô dela, e a jovem reconhece Risoleta como sua mãe.

Lua Vianna (Antonio Fagundes) é filho de Dona Leocádia (Lídia Costa), irmão de João Gibão (Juca de Oliveira). O apelido surgiu do nome Luiz. Ao contrário do irmão, é um homem bem-humorado, figura popular e benquista na cidade, onde é o atual prefeito, eleito acima das disputas partidárias e das lutas entre famílias.

De forte personalidade, Lua Vianna procura se manter independente politicamente, embora seja noivo de Zélia (Yoná Magalhães), filha do coronel Tenório Tavares (Sebastião Vasconcelos), um dos líderes mudancistas. Seu lema é administrar sem partidos e, por isso, está sempre bem com todos.

Zélia Tavares (Yoná Magalhães) é filha do coronel Tenório (Sebastião Vasconcelos), irmã de Dirceu (Pedro Paulo Rangel) e Nato (Jorge Gomes). Tem nas veias o sangue quente dos Tavares. Formada em veterinária por vontade paterna, aplica seu curso no cuidado dos animais da fazenda Tavares. É descontraída, impetuosa, e somente Lua Vianna (Antonio Fagundes), seu noivo, consegue acalmá-la. Seu comportamento agride um pouco os costumes da cidade, mas Tenório tem loucura pela filha e, mesmo discordando de suas decisões, acaba lhe fazendo as vontades. De personalidade forte, é uma das líderes na campanha pela troca do nome de Bole-Bole, atividade que exerce com idealismo e paixão.

Após quase 15 anos de namoro, Lua Vianna (Antonio Fagundes) – irmão de João Gibão (Juca de Oliveira) – e Zélia Tavares (Yoná Magalhães) marcam o casamento, pois a noiva está grávida. O casal tem um filho, que nasce com asas. Sem ter como esconder a verdade, o prefeito diz que o filho é um anjo. O fato inusitado atrai a atenção da população e de todo o Brasil, e uma equipe de reportagem da TV Globo chega à cidade para fazer uma matéria sobre o menino, exibida no Jornal Nacional: “Saramandaia, uma pequena cidade nordestina, que até há pouco tempo se chamava Bole-Bole, é hoje alvo da curiosidade do mundo inteiro. E isto porque, nessa cidade, a esposa do prefeito acaba de dar à luz uma criança com asas. O fato está agitando os meios científicos que buscaram uma explicação para o estranho fenônemo.”

Lua Viana (Antonio Fagundes), o prefeito de Saramandaia, e Zelinha (Yoná Magalhães), filha do coronel Tavares (Sebastião Vasconcelos), numa cena do casamento.

Lua e Zélia procuram especialistas para examinar o bebê, mas ninguém chega a uma conclusão. Ambos desconhecem que João Gibão (Juca de Oliveira) também nasceu com asas e que, portanto, as asinhas da criança são fruto de uma herança genética. Dias Gomes também utiliza a subtrama para discutir os preceitos religiosos que atentam contra a vida. No desenrolar da história, o menino, muito doente por conta de uma grave icterícia, precisa ser submetido a uma transfusão de sangue, mas acaba morrendo por conta da crença do pai: seguindo as regras de sua religião, Lua não aceita a transfusão. O casal decide tratar a criança com banho e chá de picão, como a própria mãe de Lua tratou dele e de João, que apresentaram a mesma doença quando nasceram. Mas o tratamento não dá resultado, e Zélia tenta desesperadamente convencer o marido a mudar de ideia, em vão. Quando Lua dá a autorização para o procedimento, já é tarde demais. O prefeito viaja com o filho e Dr. Rochinha (José Augusto Branco) para Recife, a transfusão é feita, mas a criança não resiste. O menino é batizado com o nome de Gabriel antes de morrer, uma alusão ao anjo. Desconsolada, Zélia deixa o marido, que é visto como culpado aos olhos do povo. Tempos depois, ela o perdoa e os dois reatam.

Risoleta (Dina Sfat) é dona de uma das únicas hospedarias da cidade, seu estabelecimento é considerado pouco familiar. De vontade forte e audaciosa, não se atemoriza com as campanhas moralizadoras com que a ameaçam, principalmente Zico Rosado (Castro Gonzaga).

Risoleta tem uma paixão mórbida pelo professor Aristóbulo (Ary Fontoura), ansiando por vê-lo transformado em lobisomem e amá-lo assim. Costuma colocar dentro de um copo com pinga a imagem do padroeiro da cidade, Santo Onofre, chamado de santo pinguento porque bebe todo o conteúdo do copo. É mãe de Dulce (Teresa Cristina Arnaud), que desconhece o parentesco pois foi levada ainda pequena para morar com o avô paterno, Zico Rosado, que deu dinheiro a Risoleta para que ela deixasse a cidade. A mulher forte e determinada tem paixão pela sua coleção de bonecas.

Dora (Natália do Vale) é uma das garçonetes e arrumadeiras da pensão de Risoleta (Dina Sfat). Assim como Rosalice (Maria Rita), é do interior e, depois de um mau passo, foi expulsa de casa. Risoleta a amparou como se fosse sua filha. Sonha em conhecer um coronel que lhe garanta o futuro.

Rosalice (Maria Rita) com história semelhante a de Dora (Natália do Vale), também foi acolhida como filha por Risoleta (Dona Sfat), trabalhando como garçonete na pensão.

O romance de Risoleta com Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura) é um dos chamarizes da novela. Em vez de sentir medo do professor, que todos desconfiam virar lobisomem, a dona da pensão se sente atraída por ele e não descansa até descobrir a verdade. Por várias vezes, em noites de lua cheia, tenta segurá-lo em sua pensão até depois da meia-noite, mas o professor sempre dá um jeito de escapulir. Até que a própria Dona Pupu (Elza Gomes), mãe dele, revela tudo. Risoleta tanto faz que conquista Aristóbulo.

Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura) é Professor de Português do Ginásio, presidente do Centro Cívico Bolebolense. Coletor de impostos e orador oficial de todos os comícios em prol da manutenção do nome da cidade, bem como das solenidades cívicas. Sofre de insônia crônica, não dormindo há quase dez anos, o que o faz perambular à noite na cidade, à cata de um velório ou qualquer passatempo. É o primeiro filho nascido após uma série de seis irmãs, e sua palidez é mortal. É nisso que se alimenta a lenda de que ele se transforma em lobisomem nas noites de quinta para sexta-feira. Filho de Dona Pupu (Elza Gomes).

Dona Pupu (Elza Gomes) é mãe do professor Aristóbulo (Ary Fontoura), velhinha simpática e afável que guarda em casa a cabeça mumificada do marido morto. Chama o filho de “Neném”. Raramente sai de casa, desde que o marido foi torturado por remanescentes do bando de Corisco. Desde esse dia, teme um novo ataque, mesmo depois que os cangaceiros deixaram de existir. Belisário, pai do professor Aristóbulo (Ary Fontoura), era um senhor de engenho, onde Lampião e Corisco foram açoitados. Certa vez, após açoitar o cangaceiro Trovoada, ele decidiu entregá-lo à polícia junto com seu bando. Mas Trovoada fugiu e, para se vingar, cortou sua cabeça.

A grande revelação acontece: Professor Aristóbulo é mesmo um lobisomem, para o desespero de Dora e Rosalice, que ficam completamente assustadas com o fenômeno e para fortificar a atração de Risoleta por ele.

Nos capítulos finais, Aristóbulo passa uma noite de lua cheia com Risoleta e, no dia seguinte, dorme profundamente. O professor não dormia há quase dez anos.

Doutor Rochinha (José Augusto Branco), Antonio é seu primeiro nome. É o único hóspede fixo da pensão de Risoleta (Dina Sfat). Bebe para espantar a amargura de ter sido abandonado pela noiva, Dalva (Ana Maria Magalhães), às vésperas do casamento, e também por uma frustração profissional. Médico formado na capital, sua carreira foi reduzida a uma atividade inútil e limitada. Tem seu consultório na farmácia de Seu Cazuza (Rafael de Carvalho). Vereador, é adepto dos saramandistas.

Dona Redonda (Wilza Carla) e Seu Encolheu formam um dos casais exóticos da cidade. Ele prevê o tempo com uma simples dor nos ossos, ela não para de comer. Engorda tanto que, um dia, literalmente explode. Tempos depois de sua explosão, nasce uma rosa vermelha no buraco aberto na praça central. A flor, que chega a ficar do tamanho de um guarda-chuva, exala um cheiro forte e nauseabundo – segundo o povo, a gordura de Dona Redonda serve como fertilizante –, fazendo com que os moradores queiram destruí-la. O povo não aguenta mais o odor, que obriga os comerciantes próximos a fecharem as portas e acabou com a feira livre que existia no local. O único a não querer se desfazer da flor é Seu Encolheu, saudoso de sua esposa. Para evitar que ela seja arrancada, ele passa a fazer vigília na praça, armado. A flor, no entanto, é destruída no momento em que, convencido por Padre Romeu (Francisco Dantas) a ir a seu encontro na igreja, Seu Encolheu a deixa sob os cuidados do prefeito Lua (Antonio Fagundes). Ele não percebe a aproximação de um grupo de feirantes e vaqueiros, que dá fim à planta. Tempos depois, Dona Bitela (Wilza Carla), irmã de Dona Redonda, chega à cidade, e começa a engordar muito. Seu Encolheu se apaixona pela cunhada e os dois marcam casamento.

Comédia ou drama, era difícil, para os críticos da época, definirem o fenômeno inovador chamado “Saramandaia”. Os acontecimentos na pequena cidade nordestina vão do absurdo ao banal, desnorteiam, quebram velhos esquemas de novela e forçam a imaginação do telespectador mais atento. De uma forma ou de outra, a verdade é que ninguém ficava indiferente ao que se passava no vídeo, a partir das 22 horas, na Globo. Uma das personagens que mais chamava atenção era Dona Redonda (Wilsa Carla). Quando ela explodiu de tanto comer, Seu Encolheu (Wellington Botelho), o marido, passava a noite vigiando o local onde ela morreu. É que no mesmo lugar nasceu uma rosa gigantesca, e, segundo os sonhos do marido, Dona Redonda ressuscitaria. E, uma noite, Encolheu, de espingarda a tiracolo, assiste ao “nascimento” da querida esposa. Ela está linda, em seu vaporoso vestido, comendo um prato de flores! E como já esperava por sua volta, Encolheu não se assusta nem um pouco. Pelo contrário, ele se mostra carinhoso e diz para amada:

– Dondinha, você já comeu não sei quantos pratos de rosa e cravo, fora um de jasmim e margarida!

Deitada placidamente, Dona Redonda apenas responde:

– Está tudo dentro do regime, não se preocupe!

E depois de oferecer uma flor ao marido, desaparece, quando o professor Aristóbulo (Ary Fontoura), conhecido por sua eterna insônia, resolve circular por ali.

Dona Bitela (Wilza Carla), irmã de Dona Redonda (Wilza Carla), chega a “Saramandaia” logo após a morte da irmã, para confundir ainda mais Seu Encolheu, que logo fica apaixonado por ela. Todos a confundem com a falecida por ser muito parecida com ela. Com o tempo, começa a comer tanto quanto a falecida Dona Redonda.

Carlito Prata (Milton Moraes) é um homem da mais alta confiança de Zico Rosado (Castro Gonzaga), seu afilhado, melhor amigo, servidor leal e sócio na exploração da cachaça Bole-Bole. Simpático, envolvente, amoral, equilibra a violência do patrão com suas artimanhas. Prefere métodos mais modernos e golpes de astúcia à violência aberta e nem sempre eficaz.

Dalva (Ana Maria Magalhães) é filha de Dona Santinha (Ana Ariel) e do coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga). Há dez anos, tentou se libertar partindo para o Rio de Janeiro ao encontro de Carlito Prata (Milton Moraes), amor que a fez romper o noivado com o Dr. Rochinha (José Augusto Branco) às vésperas do casamento. Decepcionou-se ao sabê-lo casado e ficou sozinha no Rio, ganhando a vida como podia. Depois de maus momentos, doente e cansada, voltou para sua cidade, sendo recebida com o apoio da mãe e a total indiferença do pai, que considera sua filha morta. Para ele, Dalva é como um fantasma que não merece atenção.

Dalva desistiu de se casar com o Dr. Rochinha (José Augusto Branco), uma semana antes do casamento, para ir atrás de Carlito Prata (Milton Moraes), na época um homem casado. Dalva acreditava que ele largaria a mulher para ficar com ela, o que não aconteceu. Ausente da cidade por quase seis anos, ela retorna à casa dos pais e passa a se encontrar às escondidas com Carlito, agora um homem desquitado. A moça não resiste à forte atração que sente por ele, mas titubeia quando é pedida em casamento, receosa de sofrer novamente.

O autor aproveitou a trama para discutir o desquite. Dalva e Carlito vão à igreja para marcar a data do casório, mas o padre diz que não será simples, porque o noivo é desquitado. Para se casar com Dalva, Carlito tem de provar que nunca casou na igreja, providenciar muitas certidões e contar com o testemunho da ex-mulher, Emília (Maria Helena Velasco), além de aguardar uma autorização do Cardeal.

Quando já está tudo certo para a realização do casamento, Carlito tenta adiar o enlace: ele está tentando seduzir Zélia (Yoná Magalhães) – a essa altura separada de Lua (Antonio Fagundes) – e, assim, aproximar-se do coronel Tenório (Sebastião Vasconcelos). Ao descobrir suas intenções, Dalva revela a todos que foi ele quem fabricou o falso milagre que vinha atraindo tantos turistas à cidade. Antes do plebiscito para a troca do nome de Bole-Bole para Saramandaia, com o intuito de impedir a aprovação da mudança, ele fez com que a imagem de Santo Onofre vertesse sangue humano pelos olhos, e usou um walkie-talkie para simular uma voz do além.

Próximo ao fim da novela, Dalva e Carlito se casam e terminam juntos. Dr. Rochinha chega a se envolver com Dora (Natália do Vale), uma das garçonetes da pensão de Risoleta (Dina Sfat). A moça passa a cuidar dele, mas o médico deixa Saramandaia para trabalhar em Recife.

A situação do coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga) é cada vez mais assustadora: ele não para de botar formigas pelo nariz. Um engenheiro é chamado para avaliar o estado de sua casa, cujas paredes estão cheias de rachaduras, e confirma que a construção corre o risco de desabar, pois as formigas cavaram túneis no assoalho, abalando os alicerces. Carlito (Milton Moraes), Dalva (Ana Maria Nascimento) e Santinha (Ana Ariel) decidem deixar a casa, mas Rosado não quer abandoná-la, já que é uma herança de família. No final da novela, a casa desaba e o coronel é engolido por um enorme buraco, desaparecendo nos escombros.

Homão (Carlos Eduardo Dolabella) e Perivaldo (Augusto Olímpio) chegam a Saramandaia agindo como agentes do governo, mas não passam de golpistas, procurados pela polícia do Rio de Janeiro. Eles passam a investigar a vida de todos e dizem que preparam um relatório com as informações. Por debaixo dos panos, subornam os envolvidos em troca de dinheiro. Após ter a farsa descoberta, a dupla consegue fugir da cidade.

Tenório Tavares (Sebastião Vasconcelos) é um liberal conservador, de mentalidade menos estreita que a de Zico Rosado (Castro Gonzaga). Esforça-se para ser mais progressista – talvez por influência dos filhos -, embora a formação de ambos seja basicamente a mesma. Detesta os Rosado tanto quanto é detestado por eles. Viúvo, pai de Dirceu (Pedro Paulo Rangel), Zélia (Yoná Magalhães) e Nato (Jorge Gomes), é um frequentador assíduo da pensão de Risoleta (Dina Sfat), a quem tem como grande amiga e confidente. Homem de vigor, participa ativamente da campanha pela mudança do nome da cidade, que envolve igualmente toda a família Tavares.

Bia (Marília Barbosa) é filha de Seu Encolheu (Wellington Botelho) e Dona Redonda (Wilza Carla). Ao contrário dos pais, é uma mudancista militante. Namora Nato Tavares (Jorge Gomes), o que não conta com a aprovação dos pais, pois eles não acreditam nas boas intenções do rapaz. Nato Tavares é filho de Tenório Tavares (Sebastião Vasconcelos), irmão de Dirceu (Pedro Paulo Rangel) e Zélia (Yoná Magalhães). Um coronel em formação. Inteligência não muito brilhante, não chegou a completar o Ginásio. Gosta da vida do campo, estando envolvido plenamente com as atividades da usina, numa preparação para a futura substituição de seu pai na administração da fazenda. Participa da política local, adepto dos mudancistas.

Maestro cursinho de Azevedo (Brandão Filho) é barbeiro e regente da Filarmônica Bolebolense, banda partidária dos tradicionalistas, financiada pelo coronel Zico Rosado (Castro Gonzaga). Marido de Dona Fifi (Vanda Costa), é pai de seis filhas, o que o faz tremer diante da possibilidade de ela engravidar de novo e ter um filho homem. De acordo com a lenda, o filho homem que nascer depois de seis filhas mulheres será lobisomem. Por conta disso, maestro Cursino passa os meses controlando a mulher e lhe implorando para se valer de métodos anticonceptivos.

Maestro Totó de Almedia (Lajar Muzuris) é regente da Lira Euterpiana, banda partidária dos mudancistas, apoiada por Tenório Tavares (Sebastião Vasconcelos), e que tem em João Gibão (Juca de Oliveira) um de seus mais preciosos solistas. Seu maior amigo e inimigo é o Maestro Cursino (Brandão Filho), seu sócio na barbearia da cidade, dividida em duas salas: Bole-Bole, onde os fregueses tradicionalistas são atendidos por Cursino, e Saramandaia, onde Totó atende aos mudancistas.

Delegado Petronilho Peixoto (Carlos Gregório) é um exemplo de honestidade, incorruptibilidade e eficiência profissional. Elegante, amável e delicado, trata os presos com extrema humanidade, atendendo a todas as reivindicações, deixando, inclusive, a porta da cadeia aberta (e jamais houve uma fuga). De princípios morais rígidos, sua religião não permite que fume, beba, vá a festas e ame. Fez voto de castidade e vive se confessando.

Emília (Maria Helena Velasco) é mulher de Carlito Prata (Milton Moraes), vive no Rio de Janeiro, já num processo de separação do casal. Volta a procurar por ele por não se conformar com a pensão estipulada pelo juiz. Recorre ao Tribunal de Justiça para conseguir a metade de tudo o que ele ganha.

Dona Santinha (Ana Ariel) é a esposa de Zico Rosado (Castro Gonzaga), mãe de Dalva (Ana Maria Magalhães) e avó de Dulce (Tereza Cristina Arnaud). Tem a postura de uma dama de engenho. Mas é mais humana que o marido, especialmente em relação à filha. Incapaz de desobedecer a Zico Rosado, às vezes consegue dobrá-lo com um jeito especial e muita paciência.

Dona Leocádia (Lídia Costa) é uma mulher simples, mãe de João Gibão (Juca de Oliveira) e Lua Vianna (Antonio Fagundes). Dedicada aos filhos, principalmente a Gibão, que a preocupa. Viúva, conformada com a sorte, orienta Gibão a seguir esse princípio. É a única que sabe que João nasceu com asas e o ajuda a manter segredo.

Padre Pompeu (Francisco Dantas) é um velho vigário, dono de todos os segredos da cidade. Figura respeitada e simpática. Procura não tomar partido nas lutas políticas e sua cautela se estende aos conceitos religiosos, principalmente em relação à qualificação de milagre.

Durante uma discussão com o genro, que questiona a veracidade do suposto milagre ocorrido com a imagem de Santo Onofre, a beata Maria Aparadeira espalha para toda a cidade que João tem asas. Logo Saramandaia é invadida por jornalistas e cientistas, e o comércio lucra com a história.

João Gibão vira alvo da curiosidade mundial e é chamado para depor, num interrogatório comandado por Homão (Carlos Eduardo Dolabella), falso agente do governo, que o intima a colaborar com a apuração da verdade. Uma clara referência de Dias Gomes aos métodos aplicados na ditadura e à repressão imposta pelo governo militar. “O senhor sabia que ter asas era muito perigoso. Porque não é normal. Não é comum, não está dentro das normas, foge ao padrão estabelecido. Um homem, como nós entendemos que deve ser um homem respeitável, um exemplo de cidadão, não tem asas.”

Cansado de tanta perturbação, João se esconde em sua loja. Carlito (Milton Moraes) arma uma emboscada e invade o local com seus capangas. Firmino (Alciro Cunha) atira em João e, em defesa, o vereador também atira, acertando Carlito, que fica gravemente ferido. Dr.

Rochinha (José Augusto Branco) salva sua vida. João é preso, para desespero de Marcina, que está grávida. Em seguida, tem seu mandato na Câmara cassado. Os vereadores argumentam que nem o regimento interno nem a lei eleitoral preveem um vereador com asas, e que isso pode ser coisa do demônio. Os acontecimentos favorecem Zico Rosado (Castro Gonzaga), que chega a encabeçar uma passeata contra João e a tentar trocar novamente o nome da cidade para Bole-Bole.

Com a ajuda de Marcina, Leocádia (Lídia Costa) e Zélia (Yoná Magalhães), João Gibão consegue fugir da delegacia e esconder-se em um local afastado. Ele e Marcina planejam deixar a cidade, mas Carlito descobre o esconderijo e manda os jagunços armarem um cerco contra o ex-vereador.

João, que há tempos não aparava mais as asas, decide voar. Começa a chover em Saramandaia, após meses de estiagem.

O voo de João Gibão no final da história foi a forma encontrada pelo autor para falar de liberdade em meio à repressão do regime militar brasileiro.

Dizem que “Saramandaia” nasceu da amargura de Dias Gomes por causa da proibição de sua novela “Roque Santeiro”, um ano antes. Ferido, ele teria resolvido romper com todas as regras e partiu para o non sense total. Longe de recolher bem comportadamente as asas, fez como Gibão: voou livre e dessa fantasia solta saiu “Saramandaia”, a cidade onde, segundo o bispo, “até o demônio anda normalmente na rua e janta com os moradores”.

Mas um autor da consciência e experiência de Dias Gomes não ia ficar numa simples revolta formal e descompromissada. É verdade que ele explorou ao máximo sua habilidade em exacerbar contrastes. Com que leveza e verdade Dias se move do trágico para o cômico, do real para o fantástico, do pungente para o ridículo. E “Saramandaia” teve Romeu e Julieta em pleno canavial (Dirceuzinho e Dulce), teve Garcia Marquez (as apocalípticas formigas na morte de Zico Rosado), cordel do nordeste (lobisomem e Dona Redonda), expressões populares ganhando vida como “botar o coração pela boca” (Seu Gonzaga) e “o fogo do desejo” que chegou a queimas mesmo em Marcinha (Sônia Braga).

No meio dessa parafernália toda, sempre a analise clara até a caricatura dos grandes problemas da existência. Na figura de Homão, mesmo timidamente sustentada por Carlos Eduardo Dolabella, tivemos um belo estudo de como o nosso eterno e vago complexo de cultura por tornar rentável para os inescrupulosos. Ou como o nosso medo encoraja todas as formas de fascismo, o político de Zico Rosado e o psicológico no caso de Homão.

E quem é Gibão senão o individuo eternamente ameaçado em sua liberdade e originalidade pela ranhetice, mediocridade e medo dos que, em área alguma da experiência humana, jamais conseguem voar? Se fosse seguir o destino de seus predecessores, os profetas, os mártires, os inventores, todos os donos de pureza ou lucidez incomodas, Gibão teria que morrer no final. Mas como novela é um gênero muito nosso, muito brasileiro, literalmente ele deu a volta por cima.

De plagio a atentado ao vernáculo, muitas acusações sofreu o texto de Dias Gomes. Ora, porque a fantasia da obra toda não poderia tocar a linguagem também? Numa cidade onde sino bate sem badalo e lobisomem coleta impostos, por que estranhar que as pessoas falem emboramente, patrásmente, merescendência? Faz parte do quadro.

E não vão essas molecagens verbais esconder o sumarento conteúdo das falas durante quase toda a novela. Era sempre gostoso ouvir Zico Rosado exponde seu direito de “mandar matar e mandar viver”, Tenório Tavares se referindo aos Rosado que “Deus mesmo levou ao seu oficio de limpar o mundo” e Risoleta se perguntando porque esse mesmo mundo foi deixado “tão descosturado por Deus nosso senhor”.

Carlos Moraes - Colunista

Desde a primeira cena, esta novela “diferente” prendeu o publico. O Brasil inteiro esteve ligado em “Saramandaia”. Depois que “Saramandaia” estreou, a teledramaturgia brasileira nunca mais foi a mesma. Saiu de cena o novelão para dá lugar a um gênero muito comum na literatura latino-americana, mas inédito na TV: o realismo fantástico. Misturada com pitadas do mais genuíno cordel brasileiro, a novela escrita por Dias Gomes e dirigida por Walter Avancini, alcançou altos índices de audiência, além de levar, para dentro dos lares, elementos capazes de despertar o espírito critico da sociedade.

“Misturei realidade com fantasia, porque naquele momento o absurdo era um dado quase frequente no cotidiano do nosso país. Escolhi uma maneira nova de contar uma história que pudesse ajudar a clarear esta realidade.” Declarou Dias Gomes numa época de censura e repressão política.

Em sua autobiografia, Apenas um Subversivo (Bertrand Brasil, 1988), Dias Gomes declara que Saramandaia foi a novela que mais lhe deu prazer de escrever, embora não esteja entre as mais bem produzidas porque “exigia muitos efeitos especiais, uma tecnologia que a televisão só viria a dominar alguns anos mais tarde".

Dias Gomes incluiu no enredo de Saramandaia personagens criados inicialmente para a novela Roque Santeiro, que havia sido censurada em 1975.

Em sua autobiografia, Apenas um Subversivo (Bertrand Brasil, 1988), Dias Gomes diz que Saramandaia tinha o duplo propósito de driblar a censura e experimentar uma linguagem nova na TV, o realismo mágico. Trabalhando com simbologias e metáforas, o autor dificultou o trabalho dos censores, mas não conseguiu evitar dezenas de cortes na história.

Dias Gomes usava um estratagema para driblar a Censura: como os critérios eram extremamente variáveis, e os censores eram trocados frequentemente, o autor repetia uma cena vetada 20 capítulos adiante e, se novamente cortada, voltava a repeti-la, até ela ser finalmente aprovada.

Apesar de “Saramandaia” ter sido considerada o pontapé inicial do realismo fantástico em novelas brasileiras; Dias Gomes já tinha escrito O Bem Amado, novela de 1973, onde teve uma pitada de realismo fantástico. Foi através do personagem Zelão das Asas, vivido pelo ator Milton Gonçalves. A diferença era que João Gibão nascia com asas, enquanto o Zelão teve que confeccionar as próprias asas, para poder voar na intenção de cumprir uma promessa.

Saramandaia trata de assuntos como direitos trabalhistas e abuso de poder. Ao longo da trama, o vereador João Gibão (Juca de Oliveira) denuncia a falta de assistência médica e social para os trabalhadores da usina de Zico Rosado (Castro Gonzaga). O tema controle da natalidade também é abordado na novela, por meio do Maestro Cursino (Brandão Filho), que tem seis filhas e receia que sua mulher engravide novamente e dê à luz um menino. Segundo a lenda local, um filho homem, depois de uma série de seis filhas, vira lobisomem. Foi o que aconteceu com o professor Aristóbulo Camargo (Ary Fontoura): antes dele, Dona Pupu (Elza Gomes) teve seis meninas. Seu Cazuza (Rafael de Carvalho), o farmacêutico, receita pílulas anticoncepcionais para a esposa do maestro, mas ela se recusa a tomá-las, alegando ser contra sua religião. Padre Romeu (Francisco Dantas) apoia a mulher, dizendo que ninguém tem o direito de evitar o nascimento de uma criança. Por fim, Dona Fifi engravida de novo, e tudo indica que será um menino.

O ator Pedro Paulo Rangel, que pela primeira vez interpretou um galã, aprendeu a andar de moto para viver seu personagem, Dirceu. No primeiro dia de gravação, caiu e quebrou a perna. A direção recorreu a um dublê, e Pedro Paulo passou a fazer suas cenas encostado, já que não podia se sentar.

Tarcísio Meira e Francisco Cuoco fizeram participações especiais na trama, respectivamente como D. Pedro I e Tiradentes.

A novela marcou a estreia de Antonio Fagundes na TV Globo. Antonio Fagundes estava vindo da TV Tupi, onde atuou em papeis de estaque nas novelas de maior audiência da emissora, tornando-se ídolo do publico paulista. O ator estreou na Globo empolgado por assinar um contrato onde ganharia cinco vezes mais e que atuaria numa emissora que o tornaria conhecido em todo Brasil.

Juca de Oliveira não se importou em abrir mão de alguns meses de férias na televisão para atuar em “Saramandaia”. Segundo havia combinado com a Globo, as férias só terminariam dois meses depois. O ator acreditou que a novela seria extremamente inovadora e ficou ansioso para saber mais sobre seu personagem, o alado Gibão.

“Saramandaia” é, sem dúvida, uma obra audaciosa de Dias Gomes, no ponto de vista da televisão. Reúne vários fatores que podem torná-la uma grande novela. Vai se muito rica em cor e representar uma nova chance em termos de literatura na TV. Com isso, poderão surgir oportunidades para outros autores brasileiros.” Conclui e profetizou indiretamente, o ator Juca de Oliveira.

Dina Sfat encarava exótico o romance de sua personagem Risoleta com Aristóbulo (Ary Fontoura). Acostumada a contracenar com galãs da época como Francisco Cuoco, Tarcísio Meira e Jardel Filho, a atriz comparou riquíssima e divertida, a experiência ao lado de Ary Fontoura.

“Risoleta e Aristóbulo e Pupu (Elza Gomes) formam um trio hilariante. Aquele fascínio que o lobisomem exerce sobre ela é maravilhoso. É uma pena que nem todas as cenas estão indo ao ar”. Lamentou a atriz em relação aos cortes da censura.

“Analisar Saramandaia não me parece tão simples: para ser sincero, quando fui escolhido para o papel de Zico Rosado, tremi nas bases, não com receio do papel em si, mas por trezentas razões: primeiro, tratando-se de uma novela completamente diferente de todas as outras até então apresentadas pela televisão, tive receio da aceitação do publico que sempre reage, negativamente, pelo menos no inicio, contra inovações (e Saramandaia era uma inovação). No caso de um insucesso, seria um tombo na minha carreira; segundo eu estava substituindo Paulo Gracindo, uma das mais representativas figuras da TV brasileira, um ator de categoria indiscutível a quem admiro e respeito como um de nossos monstros sagrados. Tomar o seu lugar sempre é uma responsabilidade que pesa demais. Para minha felicidade porém, tudo correu muito bem e eu me sinto premiado. Saramandaia, foi indiscutivelmente um trabalho maravilhoso de Dias Gomes e, na minha carreira, representou um marco inesquecível. Foi algo de novo que surgiu na televisão e, contrariamente à minha expectativa, obtive do público aprovação total, com uma audiência extraordinária. Dias Gomes marcou um novo rumo a telenovela brasileira. Como classificar, analisar ou criticar Saramandaia? Eu não sei e, inclusive, me considero suspeito para falar. De qualquer forma, a realidade fantástica, o amontoado de absurdos, a novela esquisita, a curtição maravilhosa e a dezena de objetivos que me deram para Saramandaia mostram que alcançou o mais absoluto sucesso, esta história diferente, sensacional, que só poderia mesmo sair de uma mente privilegiada como a de um Dias Gomes.” Comentou Castro Gonzaga, interprete do coronel Zico Rosado.

A Hofer S.A. lançou, na época da novela, a cachaça Saramandaia, consumida pelos personagens.

Para interpretar o professor Aristóbulo Camargo, que virava lobisomem, Ary Fontoura se inspirou na lenda do boitatá, a partir de um episódio ocorrido com um empregado de sua avó.

A cidade da novela tem uma cadeia atípica. Confortável, possui quadros nas paredes e vasos com flores. As celas ficam com as portas abertas, mas nunca houve um caso de fuga. Os presos são muito bem tratados e bebem até cerveja.

Saramandaia tornou o cantor Ednardo (que canta o tema de abertura, Pavão Mysteriozo) nacionalmente conhecido.

Saramandaia apresenta várias cenas marcantes, muitas delas relacionadas às características de seus personagens, cujas esquisitices davam bastante trabalho à direção. Um exemplo é a cena em que Dona Redonda (Wilza Carla) explode, causando um grande prejuízo à cidade, além de deixar uma dezena de feridos.

O prefeito até cogita decretar estado de calamidade pública e pedir ajuda financeira ao governo do estado ou ao governo federal. Muitos acham que se trata de um terremoto ou da explosão de uma bomba atômica. Partes do corpo de Dona Redonda se espalham pela cidade. A solução encontrada para realizar a sequência foi vestir um balão inflável com as roupas da personagem, que era enchido através de um compressor manual, à medida que ela andava. A cena da explosão foi ao ar no capítulo 26.

Uma das cenas mais emblemáticas de Saramandaia é o voo de João Gibão (Juca de Oliveira) no último capítulo da trama. Dias Gomes solicitou à direção que a novela terminasse com a música Pavão Mysteriozo ao fundo, pedindo que o fim da cena coincidisse com o último verso da canção. O autor também pediu fusões consecutivas que mostrassem Gibão sobrevoando o mar, as cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo, Nova York e Paris, e, por fim, a subida ao céu.

A dificuldade da equipe de produção em realizar algumas cenas abriu os olhos dos diretores da TV Globo para a necessidade de se criar um departamento para efeitos especiais. Para se ter ideia, as formigas usadas no ator Castro Gonzaga eram saúvas verdadeiras, catadas no formigueiro do sítio em Guaratiba (RJ), onde foram gravadas as externas, por não ter sido possível importar similares mecânicos dos Estados Unidos. “Uma delas até me mordeu o nariz”, queixou-se Castro Gonzaga que tinha que atuar com os insetos andando por seu rosto.

Dias Gomes demonstrou cuidado para que a novela não virasse um melodrama. Ele deixa isso claro em nota no capítulo 58, referente a cenas em que Zélia (Yoná Magalhães) tenta convencer Lua (Antonio Fagundes) a autorizar que o filho seja submetido a uma transfusão de sangue. A nota do autor Dias Gomes dizia: “Em toda esta sequência existem cenas que podem facilmente descambar para o melodrama. Peço, por isso, a maior contenção”.

Um incêndio no prédio da TV Globo, na rua Von Martius, no Jardim Botânico, quase inviabilizou a exibição da novela. Alguns cenários foram queimados e, por pouco, as fitas com o material gravado não foram consumidas pelo fogo, junto com fitas de outros programas. Com o incidente, Saramandaia passou a ser gravada em um dos estúdios da TV Educativa. Saramandaia passou a ser editada, respectivamente, em São Paulo e Porto Alegre, indo ao ar com imagens geradas em São Paulo. Os programas do Jornalismo também foram editados em São Paulo, e gerados de lá.

A caracterização de Ary Fontoura como lobisomem era feita pelo maquiador Eric Rzepecki. Os pelos eram colados no corpo do ator com uma cola de borracha, seguindo uma gradação de intensidade, para que fossem gravados diferentes quadros que, editados em sequência, mostrassem o passo a passo da transformação.

As gravações da novela foram realizadas em estúdio e em três locações na zona oeste do Rio de Janeiro: na Fazenda Palácio, em Jacarepaguá; na cidade cenográfica construída em Barra de Guaratiba (RJ); e em Senador Camará (RJ).

O autor deixou uma mensagem carinhosa para a equipe ao colocar o ponto final no último capítulo da novela: “Diretores, produtores, técnicos, atores e a todos que participaram desta produção. Quando lerem este capítulo, estarei voando, não com as minhas próprias asas, como Gibão, mas com as asas de um DC-10. Mas deixo aqui a minha sincera gratidão e o meu caloroso aplauso pelo brilho e pelo entusiasmo com que atuaram nesta novela. Até breve. Dias Gomes”

A trilha sonora de "Saramandaia" se resumiu apenas numa única coletânea nacional. Porém, o suficiente para garantir inesquecíveis melodias que se encaixaram perfeitamente no universo de Dias Gomes. O rei do baião, Luiz Gonzaga, foi um dos grandes nomes que marcaram presença na trilha sonora, com sua música "Capim Novo". Ainda teve Geraldo Azevedo, outro grande pernambucano, em dose dupla com as canções"Malksuma e Juritis Borboletas". Outros que marcaram presença foram Gilberto Gil, Fafá de Belém, Alceu Valença, Ney Matogrosso, Gonzaguinha, entre outros. Sônia Braga gravou a música "Sou o Estopim", que foi tema de Marcinha, sua personagem.

Trilha Sonora











01. CAPIM NOVO - Luiz Gonzaga
02. SOU O ESTOPIM - Sônia Braga
03. MALAKSUMA - Geraldo Azevedo
04. PRÁ NÃO MORRER DE TRISTEZA - Ney Matogrosso
05. CANÇÃO DA MEIA-NOITE - Almôndegas
06. BORBOLETA SABIÁ - Alceu Valença
07. PAVÃO MYSTERIOZO - Ednardo
08. CHÃO PÓ POEIRA - Luiz Gonzaga Jr.
09. JECA TOTAL - Gilberto Gil
10. JURITIS BORBOLETAS - Geraldo Azevedo
11. BOLE-BOLE - Wálter Queiróz
12. CASO VOCÊ CASE - Marília Barbosa
13. XAMÊGO - Fafá de Belém

Sonoplastia: Paulo Ribeiro
Coordenação Geral: João Araújo
Produção Musical: Guto Graça Mello

A abertura de "Saramandaia" foi uma animação, realizada através dos recursos tecnológicos da época, onde uma figura de um homem pássaro, representava o personagem Jibão, vivido pelo ator Juca de Oliveira e voava por um plano que dava a impressão de um céu. Tudo ao som de "Pavão Mysteriozo" na voz de Ednardo.

Novela de Dias Gomes
Direção de Wálter Avancini, Roberto Talma e Gonzaga Blota =

ELENCO:
JUCA DE OLIVEIRA - João Gibão
SÔNIA BRAGA - Marcina
ANTÔNIO FAGUNDES - Lua Viana
YONÁ MAGALHÃES - Zélia
MILTON MORAES - Carlito Prata
DINA SFAT - Risoleta
ARY FONTOURA - Professor Aristóbulo
CASTRO GONZAGA - Zico Rosado
SEBASTIÃO VASCONCELOS - Tenório Tavares
RAFAEL DE CARVALHO - Cazuza
ELOÍSA MAFALDA - Maria Aparadeira
JOSÉ AUGUSTO BRANCO - Rochinha
ANA MARIA MAGALHÃES - Dalva
BRANDÃO FILHO - Maestro Cursino
LAJAR MUZURIS - Maestro Totó
CARLOS GREGÓRIO - Petronílio
NATÁLIA DO VALLE - Dora
MARIA RITA - Rosalice PEDRO
PAULO RANGEL - Dirceu
WELLINGTON BOTELHO - Encolheu
WILZA CARLA - Dona Redonda
ANA ARIEL - Dona Santinha
FRANCISCO DANTAS - Padre Romeu
TERESA CRISTINA ARNAULD - Dulce
MARÍLIA BARBOSA - Bia
MARIA HELENA VELASCO - Emília
CHICA XAVIER - Das Dores
REYNALDO GONZAGA - Epaminondas
JORGE GOMES - Nato
JUJÚ PIMENTA
MARIA VELOSO
ALCÍRIO CUNHA - Firmino
DARCY DE SOUZA
VANDA COSTA - Fifi
LÍDIA COSTA - Leocádia
APOLO CORRÊA - preso

e
ELZA GOMES - Pupu (Eponina Camargo)
CARLOS EDUARDO DOLABELLA - Homão
AUGUSTO OLÍMPIO - Hominho



A Renata Dias Gomes (autora)
Neta de Dias Gomes e Janete Clair



Fontes:
ARQUIVO MUNDO NOVELAS
Rede Globo
Wikipédia 

3 comentários :

crikka disse...

1ª música da trilha, confirmada pelo clipe de apresentação da Globo...

A Cor do Desejo - Ney Matogrosso - TRILHA SONORA SARAMANDAIA (2013)

http://www.youtube.com/watch?v=LxfsPfh-FJM

crikka disse...

PAVÃO MISTERIOSO - EDNARDO - TRILHA SONORA SARAMANDAIA (2013)

http://www.youtube.com/watch?v=lk4WCpEaoig

Thiago P FERRER disse...

bem que a globo marcas poderia colocar para vender a primeira versão de Saramandaia em DVD , ja fez isso com as novelas do Dias Gomes que foram Roque Santeiro (1985) e O Bem Amado (1973)