domingo, 25 de dezembro de 2011

Maurício Gyboski, autor colaborador da novela "Fina Estampa" (PERSONALIDADE MUNDO NOVELAS)


O MUNDO NOVELAS presenteia os internautas com uma matéria exclusiva com Maurício Gyboski, um dos autores colaboradores da novela “Fina Estampa” de Aguinaldo Silva na Rede Globo.

Maurício Giboski revela como surgiu sua paixão pela teledramaturgia, seus trabalhos antes de estrear na Globo e o sucesso da novela "Fina Estampa", que vem alcançando excelentes números no Ibope.


Bem, tentar lembrar onde começou essa paixão é tarefa difícil. A primeira novela da qual tenho lembrança é Dancin Days, de Gilberto Braga, exibida em 1978, que agora saiu em DVD. Eu era pequeno, mas lembro que eu e minha irmã fazíamos a maior farra ao som da música de abertura. O mesmo aconteceu um ano depois, com Feijão Maravilha, novela de Bráulio Pedroso. Ambas as aberturas cantadas pelas Frenéticas. Como era criança, a abertura me seduzia mais. Mas a primeira trama que me chamou a atenção, creio que foi a do seriado homônimo, baseado na novela O Bem Amado, de Dias Gomes, exibida em 1980. Eu assistia escondido dos meus pais. O seriado era exibido às 22 horas, horário de criança estar na cama, mas eu não dormia por conta da risada dos meus pais, que não perdiam um episódio sequer. A primeira novela inteira que assisti, acho que foi Guerra dos Sexos, de Sílvio de Abreu, exibida em 1983. Mas tenho nítido na memória, alguns capítulos de Elas por Elas de Cassiano Gabus Mendes, Lampião e Maria Bonita de Aguinaldo Silva e Doc Comparato e Final Feliz de Ivani Ribeiro, todas exibidas em 1982 e Pão, Pão, Beijo, Beijo de Walther Negrão, exibida em 1983. Um dos brinquedos que mais gostava, eram os bonequinhos Playmobil. Lembro que já brincava de novela com eles!!! Criava histórias e personagens. Minha avó era dona de uma revistaria e foi nela que fui apresentado a duas ferramentas de criação fundamentais na minha infância: uma máquina de escrever Hermes Baby (que guardo comigo como recordação) e as fotonovelas da revista Sétimo Céu da editora Bloch. Eu sempre li muito. E mesmo criança, não apenas fotonovelas e gibis da Turma da Mônica, mas livros também.


Hoje vejo como isso foi decisivo. Não demorou muito e comecei a recortar o rosto dos atores e atrizes das revistas e criar meu próprio casting. Escalava, definia e escrevia a trama dentro do estilo do autor escolhido. Brincava de ser Boni e Daniel Filho (risos). Duas novelas fomentaram muito a minha vontade de escrever: O Outro de Aguinaldo Silva exibida em 1987 e Gabriela, de Walter George Durst, reexibida no Vale a Pena Ver de Novo em 1988. Comecei a escrever textos, que ensaiava com três vizinhas e primos. Foi nessa época que escrevi minha primeira peça, ambientada no século XIX, no Brasil escravagista. Nessa época já tinha certeza do que queria para minha vida profissional.


Mas concomitante a tudo isso, a arte está no meu DNA. Estava presente nos dois lados da família. Minha avó materna, à mesma que anos mais tarde me apresentou as fotonovelas, quando jovem, cantou em cinema. Era muito comum antes do início das sessões, na década de 30, nos poucos cinemas existentes na serra gaúcha. Do lado paterno, meu pai, uma vez por ano, era apresentador do concurso de Misses. Minha mãe reproduziu numa gincana de bairro, um capítulo da novela Que Rei Sou Eu? de Cassiano Gabus Mendes, exibida em 1989. Lembro que ficaram meses ensaiando e costurando o figurino trabalhoso. Logo depois ela entrou para um grupo de teatro e eu a acompanhava nos ensaios. Eu me apaixonei logo de cara. Ela saiu e eu continuei. Minha mãe até hoje trabalha na área, em uma casa de cultura. Portanto, a mi-nha opção pelo vestibular de artes dramáticas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi um caminho natural. O curso oferecia três ênfases: crítica, interpretação e direção. Optei pela terceira. Logo em seguida, de forma natural, me enturmei com o pessoal do cinema, ainda na pré-histórica era do Super-8 e VHS. Participei de alguns filmes de amigos, a maioria se perdeu com o tempo, infelizmente. Até que decidi que era hora de investir no meu texto e a única forma possível seria dirigindo meu próprio filme. Foi assim que incursionei de vez pela direção.

Maurício Gyboski com a atriz Dira Paes
Meu primeiro filme, Impoliticamente Correto, em parceria com o publicitário e cineasta Pedro Breitman, percorreu festivais pelo país ganhando vários prêmios o que me motivou. O filme retratava um dia na vida de Saulo Cordeiro, um bancário que acordou de péssimo humor, decide ser ultra-sincero e só falar a verdade. Só que a cada vez que faz isso, se dá mal. O filme é provocativo. Numa das cenas, na cela de uma delegacia, o travesti Pâmela Piovani, mostra o seio necrosado por má aplicação de silicone. A opção por carregar o texto e subtexto com tintas fortes foi uma forma de chamar a atenção para meu trabalho. Deu certo!

Sonho Lúcido, o filme seguinte, entrou num processo contrário. O média-metragem, com Ingra Liberato no elenco, estreou em apenas dois cinemas devido à dificuldade de exibição desse formato, mas foi bem aceito no circuito underground. Retratava um sonho de um adolescente em época de vestibular. Sem decidir qual profissão seguir e convivendo com a pressão de gerações de médicos na família para que ingressasse no curso de medicina, o jovem que desmaia no simples contato visual com sangue, sonha com um labirinto de sete portas e em cada uma delas, vê seu destino transformado pela escolha profissional que fez.


Em 2003 escrevi a web novela Pátrio Poder, também premiada e bem aceita dentro do formato há que se propunha. Tratava dos desdobramentos de uma gravidez acidental, seguida pela disputa judicial pela guarda da criança, filha bastarda da primeira-dama de um vilarejo interiorano com um jovem padre, recém chegado, em contraponto ao marido traído, homem poderoso, que registra a criança.


Na televisão comecei na Ulbra TV, uma emissora regional, com recursos financeiros limitados de produção, mas com profissionais apaixonados, onde o que prevalecia era a oportunidade de inovar. A forma artesanal com que se fazia televisão por lá, lembrava muito os primórdios da teledramaturgia nas emissoras Tupi e Excelsior. Foi uma grande escola. A emissora possui retransmissão para 13 estados brasileiros e pro Uruguai. O primeiro projeto foi uma minissérie jovem, Parada 90, que trazia no elenco além da minha amiga Ingra Liberato, Pedro Tergolina, que atualmente vive o Felipe, de Malhação. A história girava em torno do processo de amadurecimento do adolescente Pedro. Ele é obrigado a deixar pais, amigos e sua vida urbana e cosmopolita, regada a games e praças de alimentação, para conviver com os avós, numa fazenda, em meio rural. Lá, claro, também descobre o amor.


A minissérie fez relativo sucesso, com bons índices de audiência para uma emissora local, tanto que foi recentemente adquirida pela TV Bandeirantes e hoje faz parte da sua linha de produtos ofertada ao mercado internacional. Assumi o núcleo de teledramaturgia da emissora, realizei um especial de fim de ano, dirigi comerciais, re-formulei programas da grade e criei outros tantos. Também deixei alguns projetos de séries e minisséries.


Fazer parte da maior emissora do país e terceira do mundo, sempre foi o sonho de qualquer profissional da área. Comigo não era diferente. A Globo tem uma enorme capacidade de produção, sua linha de fábrica em novelas, expertise e qualidade, possibilita uma projeção do trabalho em proporções dificilmente alcançáveis em outros meios. E ainda há o diferencial de trabalhar e aprender com grandes mestres. É realmente uma fábrica de sonhos.


Nunca parei de estudar e fazer cursos na área, o mais importante sem dúvida foi a Máster Class de Aguinaldo Silva, que desencadeou no convite para colaborar em Fina Estampa. Estrear pelas mãos do Aguinaldo, um colecionador de grandes sucessos, numa novela das oito é sinônimo de responsabilidade. Fina Estampa é mais um de seus estrondosos sucessos. Recuperou a audiência perdida durante quase uma década, conseguindo feitos atrás de feitos, como dar picos de 50 pontos antes da metade da novela, índices, quando obtidos por suas antecessoras, apenas ocorridos nas semanas finais. Para quem quer se aprofundar do método de trabalho do Aguinaldo, eu sugiro que leia seu portal, acesse suas vídeoaulas que lá, além de conhecimento técnico, vão encontrar parte viva da história da teledramaturgia!


Janete Clair, certa vez, indagada se a razão do sucesso de suas novelas estaria ligada a uma vocação intuitiva para o metiê, disse: “Não resta dúvida que este é um fator relevante, mas acho que o segredo mesmo é a emoção e a capacidade de entrega ao trabalho”. Carrego isso pra minha vida profissional, agregado a observação humana, que considero outro pilar fundamental. Sigo na carreira baseado no quadripartite: observação, emoção, entrega absoluta ao trabalho e intuição. Fina Estampa está no ar e conto com a audiência de todos que me lêem aqui. Agradeço o convite do blog Mundo Novelas para contar um pouco da minha trajetória. Até a próxima!

Maurício Gyboski

Nenhum comentário :