sábado, 9 de abril de 2011

José Wilker: Ator fala de sua estreia como diretor de cinema no longa ‘Giovanni Improtta’ (GIRO CULT)


Ator fala de sua estreia como diretor de cinema no longa ‘Giovanni Improtta’
Completando 50 anos de carreira em 2011, José Wilker viveu ativamente todas as fases – ou “surtos”, como ele classifica – do cinema brasileiro nas últimas décadas. Atuando em quase 60 filmes, trabalhou com alguns dos principais cineastas nacionais, como Cacá Diegues ("Xica da Silva", "Bye Bye, Brasil"), Leon Hirszman ("A Falecida"), Bruno Barreto ("Dona Flor e Seus Dois Maridos") e Sergio Rezende ("O Homem da Capa Preta", "Guerra de Canudos"). Agora, o ator estreia na função de diretor em "Giovanni Improtta", coprodução da Globo Filmes baseada no cômico bicheiro criado por Aguinaldo Silva, cujas filmagens começam oficialmente na próxima semana (durante o carnaval, Wilker rodou algumas cenas na quadra da Grande Rio, transformada na fictícia Unidos de Vila São Miguel). Nesta entrevista exclusiva para a Página do Cinema, o ator e agora diretor fala da retomada da parceria com Cacá Diegues, um dos produtores do filme, as diferenças do personagem no filme e nos romances e na novela “Senhora do Destino”, escritos por Aguinaldo Silva, e como foi trabalhar com a filha Mariana de Vielmond, uma das autoras do roteiro.


Como é reeditar a parceria com Cacá Diegues e o que muda da relação ator/diretor para a de diretor/produtor?

Não muda nada, nossa amizade é muito forte e constante, confiamos um no outro. Fiz filmes com ele por puro prazer, sem a preocupação de estar empregado ou não. É uma pessoa com quem posso contar, e ele sabe que pode contar comigo, a admiração é mútua.

Após atuar em mais de 50 longas-metragens, o que o levou a dirigir seu primeiro filme?

Os 50 anos de carreira geraram algum desejo de mudança neste sentido?
Foi um processo lento, de muitos anos. Começou na época das filmagens de "O Maior Amor do Mundo" (2006, de Cacá Diegues). Existe uma brincadeira no meio do cinema que diz que a melhor hora para começar um filme é quando se está acabando outro, então sugeri ao Cacá que fizéssemos uma adaptação do texto do Aguinaldo Silva, e ele me disse que eu deveria dirigir, e ele se dispunha a produzir. Resisti um pouco no começo, o acúmulo de funções poderia ser demais. É um trabalho, não posso ser afetado pela vaidade. Mas está sendo muito bom, estou cercado de pessoas generosas, o trabalho até o momento tem sido absolutamente tranquilo.

‘Giovanni Improtta’ tem roteiro de sua filha, Mariana de Vielmond. Como foi o trabalho em família? Quais as maiores diferenças do bicheiro na novela e dos romances de Aguinaldo Silva para o cinema?

A gente fez um argumento e começou a pensar se íamos realmente escrever. A Mariana estuda roteiro há seis anos, já fez vários institucionais e seriados do Multishow. Li os trabalhos e vi que tinha em casa o roteirista de que precisava, ela é uma excelente profissional. No Brasil, existe uma falta de roteirista muito grande e às vezes essa função acaba com o diretor, deixamos de dar tanta importância a este aspecto. Claro que o personagem guarda resquícios da telenovela, mas elas são horizontais, o filme tem que acontecer em 1h40m, então tenho que contar uma história vertical, mais profunda.

Você viveu várias fases do cinema brasileiro. Como classifica o momento atual?

Não vejo o cinema brasileiro em fases, mas em surtos. Tivemos o surto de Recife, da Atlântida, da Cinédia, do Cinema Novo, da pornochanchada, da Embrafilme, do Governo Collor, e agora, da Retomada. Nisso tudo, fica claro que o Brasil não tem ainda um cinema, mas tem filmes. O que está acontecendo de novo é que este surto se prolongou, temos mecanismos mais eficazes de sobrevivência, então não é mais um surto, já é uma fase, um período que pode ser muito rico. Nosso problema não está na produção, mas na exibição, o público em potencial é muito pequeno no Brasil. Temos 2.400 telas no país, menos que Manhattan, que o México, que a Argentina. Precisamos tornar acessível nosso produto para o grande público.

Sua experiência de seis anos como presidente da RioFilme o ajudou no processo de produção de ‘Giovanni Improtta’?

Ela me ensinou que eu não deveria ter me metido nisso (risos). Aprendi que cinema era um mau negócio, sofri horrores, percebi na Riofilme quanto o esquema burocrático do Estado é proibitivo para a produção cultural do país, acaba transformando a produção de um filme numa epopéia que exige a paciência de um monge tibetano. Como cidadão, aprendi a lidar com este tipo de mecanismo, aprendi um pouco da paciência tibetana do monge.

Durante o carnaval, você rodou algumas cenas na Grande Rio. Como foram as filmagens? O fato de a escola ter passado por um momento crítico com o incêndio no barracão gerou alguma emoção extra nas filmagens?

Frequento a escola realmente, sou muito ligado a eles, tenho amizades lá. Fizemos a preparação no dia seguinte ao incêndio, e a disposição era monumental, gente comovida, chorando, se doando. No dia da filmagem eles foram geniais, jamais ia conseguir uma figuração tão numerosa e tão competente como conseguiram para mim. Me deram muito mais do que a gente imaginou, eles reinventaram o fim do filme.

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